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enganando me a vontade no que a idade (24) me tem dezenganado, adoeci muito mal dos olhos, e assim ficou.

<< Parece-me verdadeiramente que alli o á e que com duzentos cruzados, que é bem pouco, empregados em cunhas, facas, tesouras, pentes, anzolos, mata mundo e margaridetas, sem mais outro resgate grosso, e com o insino, e Regimento que lhes daria, e outras promessas que lhe havia de poder fazer da parte de Vossa Alteza, tendo eu para isso seo expresso e particular mandado, se descubrira para o desengano delle dentro de seis mezes, pela qual razão me não atrevo ao hir descubrir; porque homem tão velho como eu atrever-se a tão comprido caminho, seria dizerem que me falta o que cuidão que me sobeja.

<< Creio que Thomé de Sousa de tudo dará inteira informação a Vossa Alteza. A elle sò creia, eu digo o que por mim tenho sabido, porem ainda não vi nestas partes nenhum tão dezejoso de o descubrir como elle, por ser serviço de Vossa Alteza, e saber o grande proveito que em se descubrir consiste.>>

Além de outras cousas relativas ao assumpto indicava, por sua vez, Duarte de Lemos : « por nenhuma terra d'estas partes podem mylhor yr a elle (25) que por esta de Porto Seguro per ho gentio della estar mui de pas e muito nossos amigos mormente dispoies que V. A. mandou a sua armada a esta terra (26).»

Para consecução do fim que lhe estava recommendado, adoptou Thomé de Souza primeiramente um alvitre que tinha de necessaria mente frustar-se sobre ter sido desastroso expediu da Bahia para o lado de Pernambuco uma galè ao mando de Miguel Henriques a quem ordenou que entrasse pelos rios dentro até onde mais não pudesse «que dezejo eu muito de saber (escrevia Thomé de Souza) o que vai por esta terra para ver si posso descobrir alguma boa ventura pera Vossa Alteza, pois esta terra e o perun (Perú) he toda uma (27).»

24 63 annos. 25.

Referia-se ao ouro.

(26. Carta dirigida a D. João III, de Porto Seguro, aos 11 de julho de 1559, trecho publicado por Varnhagen, Hist. do Brazil, I pag. 214.

O Instituto Historico do Rio de Janeiro possue copia dessa carta. n. 5.697 do Cat. da Exp. de Hist. do Brasil,

(27). Carta de Thomé de Souza a D. João III, datada da Bahia aos 18 de julho de 1851. No Brasil Hist., 2.* serie, I, pag. 220.

O unico rio que corresponde a esse designio é o de S. Francisco, o que deixa ver que por aquelle tempo era desconhecida a cachoeira de Paulo Affonso, que impede o transito de embarcações do littoral para o interior do paiz. Além disso a idea de levar a exploração pelo rio S. Francisco implicava suppor que fosse esse o rio interior a que os indios se referião, o que era outro engano com a vantagem porém de mais cedo fazer attrahir a attenção para o S. Francisco (28).

A galė partiu aos 5 de Novembro de 1550 e della não se teve mais noticia (29).

Tinha levado como objectivo o descobrimento do ouro, o que não podia ser senão na serra resplandecente ou Sol da Terra, embora a galė se dirigisse a seguir uma via impraticavel e errada.

Como vimos, pela carta de Guilhem, alvoraçados com as portentosas noticias do sertão os habitantes de Porto Seguro determinarãose a fazer uma entrada em busca do ouro e levarão primeiramente esta deliberação ao conhecimento do governador geral. Este consul tou o parecer de Guilhem, o qual indicou os itens do que convinha

O Instituto Historico do Rio de Janeiro possue copia dessa carta, n 5699 do Cat. da Exp. de Ilist. do Brasil.

A expedição dirigia-se ao S. Francisco, cuja exploração fòra expressamente recommeudada a Thomé de Souza. V. art. 40 do seu regimento, no Brazil Hist., vol. cit., pag. 202.

Acerca da continuidade das terras entre a zona maritima do Brazil e o Perú, dizia Duarte de Lemos carta citada:

< Como está na conquista de V. A. todo e a mór parte que vay do Perú, e que está nesta altura de dezasete gráos que he aonde esta capitania está.» (Varnhagen, obra cit., I, pag. 214.

(28. No designio de buscar-se a serra do Sol da Terra por via fluvial, o rio que devia ser procurado era o Jequitinhonha, o qual sahe ao mar ao sul da Bahia, isto é, do lado opposto áquelle para onde se mandou a galė.

(20). Na citada carta refere Thomé de Souza : « Agalle partio a cinco de Novembro do anno passado e ate a feitura desta nom tenho nova della, presumo pelas grandes tormentas que ca foram muito desacostumadas, que este ano pasado nunca o tall vi, que he perdida e que a comeo o mar por que se dera em terra na costa ou em algum rio tivera nova della pelos Indios, prazera Deos que não será perdida e se o for que os levara todos ao paraizo, pois ião em serviço de Deos (e) de Vosa Alteza, »

fazer-se para o melhor exito da expedição, cuja partida parece tinha de realisar-se no começo do verão. Convidado por Thomé de Souza para chefe da expedição, Guilhem acceitou esse posto, o que porém ficou sem effeito por motivo de molestia.

Por sua vez o capitão de Porto Seguro, Duarte de Lemos, indicou (carta citada) o piloto Jorge Dias, sobrinho de Pero do Campo (30).,

Notemos tambem que as tentadoras riquezas do sertão erão representadas por duas (31) especies minerses: o ouro e as chamadas esmeraldas. O metal precioso localisava se na serra resplandecente ou Sol da Terra, á margem esquerda do Jequitinhonha; a pedra preciosa na serra (depois chamada serra das Esmeraldas) comprehendida em parte das bacias do Mucury, S. Matheus, rio Doce e Jequitinhonha; duas localidades, portanto, mui distinctas entre si e ambas situadas no Estado de Minas Geraes.

Em ordem a abranger esse complexo, parece que o plano de Thomé de Souza consistiu em expedir para a serra do Sol da Terra a galé de que acima tratámos e para a serra das Esmeraldas a gente de Porto Seguro, demovendo os a tomarem por objectivo a busca das esmeraldas em vez da de ouro.

Deve presumir-se que a expedição terrestre partiu, de Porto Seguro, pouco mais ou menos, ao mesmo tempo em que a maritima sahiu da Bahia, 4. trimestre de 1550; e aquella teve por chefe Martim Carvalho (33).

30). Varnhagen, Hist. do Brasil, I, pag. 214.

(31). Aliás tres especies, porque tratava-se tambem de minas de prata, cuja situação provavelmente suppunha-se ser na mesma região do ouro. V. nota (6.

(32). Com referencia ás noticias recem-chegadas de Porto Seguro, onde estava por capitão Duarte de Lemos, diz Varnhagen, loc. cit.:

« Uma partida de gentios alli arribada do sertão dava fè de que, para as bandas do grande rio S. Francisco, se encontravam serras com esse metal amarello, cujos pedaços iam ter aos rios; e ao mesmo tempo apresentavam mostras de varias pedras finas, entrando neste numero algumas verdes como esmeraldas.»

(33). O facto da invasão e permanencia dos terriveis Aymorés na capitania de Porto Seguro exclue, a partir do anno de 1530 em deante, a incidencia da jornada de Martim Carvalho, a qual fica assim subordinada a um periodo de tempo anterior ao sobredito anno de 1539. V. nota 67 A.

Tendo Espinhosa chegado ao rio S. Francisco sem poder proseguir no descobrimento das serras de ouro e de prata e seguindo-se maximo empenho pela continuação dessa diligencia, pode formular-se esta proposição: si alguma expedição exploradora se pudesse realisar para o sertão entre os annos de 1555 e de 156), especialmente por via de Porto Seguro, tal expe

Essa jornada foi referida por Pero de Magalhães (Gandavo) no Tratado da terra do Brasil, obra escripta por 1563 segundo o sr. Capistrano de Abreu, mas só publicada em Lisboa na Collecção de notícias para a historia e geographia das nações ultramarinas, IV, (1826); n. 5 do Cat. da Exp. de Hist. do Brazil.

A narrativa de Gandavo foi reproduzida pelo sr. Orville A. Derby no jornal O Estado de S. Paulo n. 7975, de 24 de setembro de 1900, pelo sr. Capistrano de Abreu na Revista do Archivo Publico Mineiro, VI, (1901), pag. 1167 68, onde se vê que foi extrahida da Rev. do Inst. Hist. de S. Paulo, V, pag. 246. Aqui transcrevemos uma parte: « A esta capitania de Porto Seguro, chegaram certos indios do Sertão a dar novas de umas pedras verdes, que havia numa serra muitas leguas pela terra dentro, e traziam algumas dellas por amostras, as quaes eram esmeraldas, mas não de muito preço; e os mesmos indios diziam que daquelles havia muitas, e que esta serra era mui fermosa e resplandescente (34). Tanto que os moradores desta ca pitania disto foram certificados, fizeram-se prestes cincoenta ou sessenta Portuguezes com alguns Indios da terra e partiram pelo Sertão dentro, com determinação de chegar a esta serra onde estas pedras estavam. Hia por capitão desta gente um Martim Carvalho, que agora he morador da Bahia de todos os Santos; entraram pela terra, etc.>>

Confrontando-se com esta transcripção o que atraz fica deduzido, resulta que a expedição de Martim Carvalho effectuou-se na occasião que referimos, 1550-1551, pois que a jornada levou oito mezes.

O caminho seguido foi sem duvida o mesmo dos indios, por onde em 1538 jà entravão portuguezes de Porto Seguro, e que tambem conduzia á serra do Sol da Terra, isto até certo ponto donde se to. maria a esquerda para ir a serra das Esmeraldas. Nesta direcção porém a expedição de Martim Carvalho chegou sómente até á altura do rio Cricaré (S. Matheus) e quebrando á esquerda retirou-se por este rio em canôas, não tendo conseguido chegar á serra das Esmeraldas por causa da hostilidade dos indios.

dição teria sido dirigida de preferencia ao S. Francisco; o que similhantemente faz anteceder ao anno de 1555 a incidencia da jornada de Martim Carvalho em busca da serra das Esmeraldas.

Porém o concurso de circumstancias em que formou-se essa empreza deu-se em Março de 1550 e pela narrativa de Gandavo deprehende-se que não houve demora na execução.

(34) Nisto parece haver alguma confusão. O epitheto resplan decente (berab) föra dado pelos indios propriamente á serra do supposto ouro, Sol da Terra, distincta da serra das esmeraldas, que mais adiante o auctor designa pela expressão serra das pedras verdes

Na marcha que fizerão para o ponto objectivo acharão, entre a areia de um ribeirão, ouro em grãos meùdos, o qual foi o primei. ro descoberto no Brazil, territorio de Minas Geraes.

Na carta que citámos alludio Thomé de Souza a umas amostras de ouro que tinhão sido remettidas pelo provedor Antonio Cardoso e se perderão, 1551. Não havendo até agora explicação da proceden. cia de taes amostras, é rasoavel admittir-se que ellas erão do descoberto de Martin Carvalho, podendo ter sido por este despachadas por meio de algum emissario, ou levadas por homens da comitiva que della se desgarrassem.

Dado o forte empenho de descobrir-se ouro, envidando-se para tal fim tamanhos esforços, sacrificando a vida todos os que forão na expedição maritima, cabendo a outros arrostar fadigas, perigos, privações, molestias, e tendo sido achado o metal precioso, deve causar reparo a indifferença, ou pouco caso com que foi acolhido es se resultado, parecendo nada haver sido feito para aproveitamento da jazida descoberta :- é que esta, por mais rica que pudesse ser, não correspondia á expectativa dos que pretendião encontrar o ouro em forma de montanha reluzente.

Como materia correlativa e principalmente pela sua connexão com os factos subsequentes abrangemos aqui o descobrimento do ouro na capitania de S. Vicente.

O movimento que depois da vinda de Thomé de Souza se havia iniciado pela parte do norte, tendente ao descobrimento do ouro, propagou se á capitania do sul, talvez por influxo do mesmo governa dor geral.

Para o fim a que nos referimos, naturalmente fizerão se na capitania de S. Vicente diligencias, de que não ha noticias.

No 1. semestre de 1552 foi o ouro descoberto na dita capitania. A noticia foi logo transmittida a D. João III pelo bispo D. Pedro Fernandes Sardinha no final da carta datada da cidade do Salvador aos 12 de julho de 1552 ( 35 ), nos seguintes termos :

<< Hontem, que foram 11 deste julho, chegou um navio da Capitania de S. Vicente, que deu certa nova que era muito ouro acha do pela terra dentro e que eram la idos muitos Portuguezes e que se esperava por recado por todo este Agosto; devia Vossa Alteza mandar assoalhar esta nova pelo reino, para os homens se moverem vir cá de melhor vontade ».

35) Rev. do Inst. Hist., XLIX, (1833), Parte I, pag. 583.

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