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EXCAVAÇÕES

OU

APONTAMENTOS HISTORICOS

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CIDADE DE PITANGUY

E' tradição constante que as Minas de Pitanguy foram descobertas em 1709 pelos Paulistas, que vinham das partes de Sabará e Caeté, em demanda das terras que ficam ao poente e onde suppunham haver ricas minas de ouro.

E' tambem tradição constante que, tendo elles pernoitado á margem esquerda do corrego Carurú ou Lava-pés, ahi morreu, mordido de cobra, o velho guia que traziam enfermo em uma rêde e era o homem que sabia a parte e ponto certo do seu destino.

Desanimados de proseguir na jornada pela falta do guia, sem o qual difficil e contingente seria o acerto em um dilatado sertão, resolveram os Paulistas regressar, sahindo pelo mesmo rumo por onde haviam entrado.

Com effeito, na manhã seguinte, tristes e silenciosos, partiam elles das margens do · Carurú.

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A pouca distancia, porem, do Carurú no morro que hoje se chama Batatal, vio o aventureiro da dianteira um pequeno grão de ouro na terra de um buraco de tatů.

Ahi os Paulistas fizeram alto e trataram de examinar o terreno adjacente.

Era uma riqueza que alli existia.

As formações primeiras mostraram ouro de mui facil extracção, superficialmente espalhado na terra, á guisa de batatas.

D'ahi proveio o nome de Batatal áquelle morro.

Com a importante e casual descoberta do ouro, os Paulistas resolveram se a ficar nesso mesmo morro e começaram desde logo a fazer um grande rancho onde vivessem em commum.

Em 1709, o rio Pará chamava se Pitanguy que, na lingua vulgar do gentio da terra, queria dizer rio de crianças, porque, na sua margem direita, encontraram os Paulistas um pequeno aldeamento de Indios com muitas creanças.

Do nome do rio proveio, para este logar a denominação de Minas de Pitanguy.

Depois os vindouros mudaram o nome do rio Pitangny para rio Pará, que quer dizer rio grande.

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Entretanto, proseguiam os Paulistas no trabalho da extracção do ouro, auferindo os mais lisongeiros resultados.

Trabalhavam em uma especie de associação, sendo o lucro igualmente dividido entre si.

O fim de 1709 e todo o anno seguinte correram para os Paulistas sem incidente algum que lhes viesse contrariar a marcha regular do seu trabalho.

Unicamente doia lhes ainda no fundo da alma a morte do velho guia, cuja sepultura visitavam frequentemente com religioso acatamento.

Os aventureiros iam, de tempos em tempos, até ás partes do Sabará vender ouro e prover-se daquillo que se lhes fazia indispensavel para subsistirem naquellas mattas e proseguirem em sua jornada, rica de resultados.

Com isto divulgou-se a riqueza destas minas, cuja fama a ellas attrahiu o primeiro povo, que entrou em 1711.

Tentaram-se novas experiencias nos ribeiros, hoje denominados Brumado, S. João, Onça, Guardas, S. Joanico e outros e encontrou-se ouro em abundancia.

Trabalhavam, porem, os homens nos logares, onde cada um se antecipava, sem repartição judicial e só pela precedencia ou posse que tomavam, o que occasionou muitas dissenções, mortes e ruinas, prevalecendo o poder e a força contra a razão e a justiça.

No anno de 1713, venderam-se nestas minas a oitava e meia de ouro por mão de milho (quarta parte de um alqueire).

Em 1714, houve o 1.0 Tabellião de notas para as escripturas e mais papeis concernentes a esse officio, e nelles se denominava esta terra por Minas de Pitanguy, Freguezia de Nossa Senhora do Pilar até o mez de Abril de 1715, (*) em que se nomeia já por Villa de Nossa Senhora da Piedade de Pitanguy.

Devemos entender que, jà então, lhe fôra por S. M. Fidelissima feita a mercê do titulo de Villa, bem que nem achassemos a carta da mercè e nem memoria alguma della.

Notavel omissão de nossos maiores !

Por esta falta poder se-ia com razão duvidar da conceɛsão daquelle titulo e da sua legitimidade, si cartas regias, dirigidas a esta Villa desde aquelle tempo, a não denominassem Villa de Nossa Senhora da Piedade de Pitanguy. (**)

* **

Em 1718 foram eleitos os primeiros Juizes ordinarios Antonio Rodrigues Velho e Bento Paes da Silva.

Houve tambem a primeira eleição da Camara que ficou assim or ganizada:

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João Cardoso, Lourenço Franco do Prado e José Pires

Antonio Ribeiro da Silva.

A estes empregados foram dirigidas muitas cartas do Exm. Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, que governava esta capitania, nas quaes lhes incumbia da cobrança dos reaes quintos e do governo politico da terra.

Com o cargo de Regente e destino de compor as discordias, chegou nesse anno, enviado pelo Exm. Conde Governador, o Brigadeiro de Auxiliares, João Lobo de Macedo.

(*) 9 de Junho, segundo Xavier da Veiga — Ephemerides Mineiras.

(Nota da redacção ).

Na carta patente do mestre de campo Antonio Pires de Avila vem consignada a data de 22 de Junho em que este prestára contas á Camara já constituida de todos os bens pertencentes á Fazenda Real, dos defuntos e auzentes e quintos do gado que havia entrado na Villa, tudo com claresa e desinteresse.

Esta carta patente existe nos archivos de S. Paulo.

(Nota da redacção).

Em 1719 tiveram logar as primeiras concessões ou posses conferidas pelos Guarda-móres neste districto, como se vê do livro 1.o deste Guardamoria, do qual não consta nem por modo algum se sabe quem fosse o descobridor destas minas, nem que premio ou galardão tivesse, infelicidade esta quasi commum naquelle tempo aos que des cobriam riquezas que haviam de exalçar a outros, ficando os autores pobres e ignorados.

Foram tambem eleitos nesse anno novos Juizes e Officiaes e só se mostram do livro do Registro os nomes dos que serviram: Manoel de Figueiredo Mascarenhas, Antonio Leme do Prado, Estevão Paulo de Mello e Procurador José Rodrigues Lima.

Todo o anno de 1719 correu revolto e cheio de perniciosas intrigas, nascidas principalmente da irregularidade com que se occupa vam as terras mineraes.

O povo, pouco respeitoso á justiça que então principiava a co. nhecer se em um paiz nascente, auxiliado por alguns poderosos descontentes, levou seu arrojo a fazer sahir da terra o Brigadeiro de auxiliares e assassinou violentamente a um dos Juizes ordinarios, Manoel de Figueiredo Mascarenhas.

Em 1720 fizeram se novas Justiças e foram Juizes Ordinarios : José de Campos Bicudo e Miguel de Faria Sodré ; Vereadores: Francisco do Rego Barros, João Henrique de Alvarenga e José Rodrigues Betim; Procurador, João Velloso de Carvalho.

Estes Officiaes, homens bons e honrados, amigos da paz, do real serviço e do bem publico, com outros mais de boa conducta, deram favor ao Corregedor da Camara, Bernardo Pereira de Gusmão, para que, sem perigo, podesse entrar na Villa, corrigir e castigar as dis cordias antecedentes que ameaçavam arruinal-a.

A furiosa insolencia dos sediciosos chegou a impedir com mão ar mada a entrada do dito Corregedor, pondo guardas que lh'a dispu tassem e o opprimissem no logar, que por esse facto, se chamou e ainda hoje se chama Guardas.

Talvez tivessem conseguido seus damnados intentos se os Juizes e Officiaes da Camara não prevenissem com disfarce e segurança a introducção do dito Ministro por caminhos novos e não sabidos dos sediciosos.

Comtudo atacaram-lhe a bagagem e mataram algumas pes

Boas.

Com a chegada do Corregedor e devassa a que procedeu, desertaram os revoltosos, internando-se pelos sertões de Goyaz, que principiava a descobrir-se, sendo um dos chefes da revolta Domingos Rodrigues do Prado, homem poderoso, de grande sequito, dotado de prendas que o recommendavam, como a de muito valor e expe

riencia em penetrar os sertões e conquistal-os para descobrimento do ouro.

Com a sua ausencia a terra ficou em paz.

Foi a Villa crescendo em moradores, que, estendendo-se por todos os lados do Districto, foram elles mesmos, pela necessidade do pasto espiritual, edificando capellas como a de Nossa Senhora da Conceição do Pará, a de Sant'Anna do arraial da Onça, a de S. Joanico, a de S. Gonçalo do Brumado, a do Divino Espirito Santo de Itapecerica e Serra Negra, a de Nossa Senhora do Bom Despacho do Lambary e Picão, a de Santo Antonio do rio S. João, a de Sant'Anna do mesmo rio acima, a de S. Gonçalo do Pará acima, a de Nossa Senhora da Piedade do Patafufo, além de muitas outras de pessoas particulares om suas fazendas, todas filiaes da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, que ė a Matriz; existindo outras mais capellas dentro da Villa, como são: a de Nossa Senhora da Penha no morro do Batatal, a do Senhor Bom Jesus da Paciencia e a de Nossa Senhora do Rosario, dos pretos.

Havendo os Paulistas parado no Carurú, como já dissemos, pela morte do guia e descobrimento do ouro no Batatal, sempre aos moradores da Villa ficaram esperanças de que nas terras do Poente, sertões que ficavam visinhos e immediatos, encontrar-se-iam as minas que aquelles demandavam.

Convictos d'isso, muitos Paulistas moradores do districto, emprehenderam descobril as.

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Logo depois da povoação desta Villa, Antonio Rodrigues Velho e seu sogro José de Campos Bicudo, penetrando os sertões d'aquem e d'além do rio S. Francisco, buscando sua nascença, só encontraram muitos Indios bravos que trouxeram e que, mansos, viveram nesta terra por muitos annos.

Algum tempo depois, Baptista Maciel, tambem Paulista, tendo sahido da Villa com o mesmo designio, fez roças e lavouras, nas cabeceiras do rio S. Francisco para com mais facilidade explorar o sertão.

Os calhambólas estavam senhores desses logares, onde viviam em grandes quilombos.

Uma noite, acommettendo repentinamente ao dito Baptista, o mataram e a muitos de sua comitiva, escapando apenas 18 ou 19 pessoas, que, feridos e maltratados, vieram em canoas pelo rio S. Francisco a curar-se nesta Villa.

Isto se deu. no anno de 1750. R. A.-11

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