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do Uruguay; Durão, o epico do Caramurú; Gonzaga, o lyrico da Marilia; Claudio, o cantor da Villa Rica; os Alvarengas, Pereira Caldas e Moraes e Silva; o jornalista Hypolito Costa; Azevedo Coutinho, primeiro economista portuguez; o geometra Villela Barbosa, o estadista Nogueira da Gama, o chimico Coelho de Seabra Conceição Velloso, auctor da Flora Fluminense, e Araujo Camara, companheiro das viagens de José Bonifacio.

Nada ha portanto de admirar que em 16 de dezembro de 1815, o emigrado principal D. João VI outorgasse os fóros de reino ao Brasil; nada de admirar que, trabalhando pro domo sua, trouxesse anteriormente da metropole abandonada para o novo imperio, donde desafiava os francezes de Bonaparte, a Academia dos Guardas Mari. nhas; creasse a Academia de Economia Politica, o Archivo Central, a Imprensa Regia, a Fabrica de Polvora, a Academia Militar, as Escolas Cirurgicas da Bahia e do Rio de Janeiro, a Academia de Bellas Artes; ini. ciasse a Bibliotheca Real; fundasse a Escola Real de Sciencías, Artes ǝ Officios.

Nada de admirar que, duvidoso da firmeza do terreno americano, para onde transplantara o throno carcomido de Bragança, abrisse os portos ao extrangeiro, procurando na communhão diplomatica das potencias, nas trocas do commercio cosmopolita e sobretudo nas relações dynasticas, encontrar o vigor para sustentar a sua auctoridade e politica interna. Nada disso escapou á finura e perspicacia dos estadistas, homens realmente notaveis, que formavam o seu conselho de ministros.

E tinham razão os estadistas portuguezes, porque no dia 6 de março de 1817, levantou-se de Pernambuco um brado republicano, e esse brado repercutia na Parahyba, Rio Grande do Norte e Alagoas; as adhesões coroaram a proclamação erguida pelo capitão Pedro da Silva Pedroso. Elegeu-se um governo provisorio em Pernambuco e em cada uma dessas tres provincias, no dizer de um illustre chronista, creou-se exercito e armada para defesa da patria, inutilisaramse as coroas portuguezas, aboliu-se o tratamento de excellencia, sendo substituido pelo fraternal-vos-patriota: estabeleceram se novas bandeiras para a republica, que foram bentas e distribuidas com toda a solemnidade no Campo da Honra, antigo campo do Palacio Velho, publicaram-se decretos, etc.

Não se poude, porém, manter a nova Republica a falta de recursos dos revolucionarios em contraste com os meios fartos monopolizados pelo governo de D. João VI obrigou-os e entregou-os nas mãos do despotismo.

Na Bahia foram fuzilados: Domingos Josè Martins, padre Roma, José Luiz Mendonça e o padre Miguel Joaquim de Almeida Castro. Em Pernambuco, Domingos Theotonio Jorge e mais oito com. panheiros.

No Rio Grande do Norte, foi assassinado o coronel André de Albuquerque Maranhão.

Mas, basta de sangue. Para a rega da liberdade já está o sólo da patria mais que ensopado.

A nação quer, exige e reclama a sua emancipação. A metropole já lhe deu muito, para que a não perdesse: mas não lhe poude dar tudo, porque a conserva sujeita sob o despotismo politico.

Pois bem; a patria ha de arrancar a sua independencia com a cumplicidade das ambições do seu proprio tyranno.

Que venha essa independencia, mesmo trazida por uma cɔròa aventureira: ella será mais tarde purificada no fogo da democracia pura.

Mas aqui termina a minha missão.

Outros dirão que curso tomou esse rio de sangue dos martyres da liberdade, e que fructo deu essa arvore, cuja raiz bebeu sua melhor seiva na heroica terra de Minas Geraes.

DR. SILVIANO BRANDÃO (*)

Senhores,

E' sempre com justificavel timidez que o espirito humano procura, atravez de um tumulo recente, antecipar o juizo da prosperi dade e ao mesmo tempo interpretar o testemunho contemporaneo. Essa timidez seria em mim invencivel, si me incumbissem de traçar aqui a historia definitiva da vida e dos feitos do grande cidadão, cuja morte encheu de luto o paiz e de eterna saudade a terra mineira, a sua familia e os seus amigos. Não é a palavra, acudida de soluços, não é a pennɛ, em bebida em lagrimas, o instrumento com que se lançam as sentenças do historiador. Por mais calmo que seja o raciocinio, por mais imparcialmente positivos que sejam cs factos e os algarismos, em que baseemos os nossos julgamentos, seremos sempre panegyristas, porque falará mais alto em nós o coração. Mas, si esses factos são reaes, si esses algarismos são exactos, si esse panegyrico é a nota dominante de uma epocha, participando a sociedade desse sentir, já não ha duvida que essa será a voz da historia, porque a historia é o deposito que a prosperidade encontra da geração que a precede.

Sómente, esse deposito vem a perder dos exaggeros e transbordamentos ou, si assim me posso exprimir, da temperatura elevada dos sentimentos affectivos então vigentes, dos pormenores que a vista de perto faz avultar, e que se esfumam na distancia. Mas, compensando essas perdas accidentaes, ga nha em perennidade, fria como o marmore, resistente como o bronze, e por isso mesmo é elle

(*) Discurso proferido por Augusto de Lima na sessão civica do club Floriano Peixoto, de Bello Horizonte em 25 de outubro de 1902, trigesimo dia do fallecimento do dr. Silviano Brandão.

[N. da R.

mais grato á Gloria, e á luz desta o vulto celebrado se destaca em harmonia plena de contornos, de perfiil olympico e sereno. E' certo que por traz da historia, como por traz das montanhas costumam surgir as lendas e os mysterios, que são como as linhas avelludadas a suavisar as asperezas dos factos e as arestas das rochas abruptas. Não nos importa, porém, perscutar a historia e a lenda que, a olhos enxutos, farão o perfil do dr. Silviano Brandão. Nós outros não podemos contemplar a sua gloria, senão atravez da tristeza da saudade e das lagrimas da separação. E não são por ventura mais bellas as visões coroadas de tristeza e mais peregrinas as estrellas, quando vistas atravéz das lagrimas?

E foi achando justa aquella tristeza e legitimas estas lagrimas, que o Club Floriano Peixoto, desta cidade, cujo remontado idéal na Republica o faz venerar todos os seus benemeritos, resolveu que não correriam trinta dias do lutuoso acontecimente, sem que se desse uma prova significativa e solemne de que dós e continua a doer fundamente em seu coração a ausencia material do dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão. Interpretando esses sentimentos, eu não tenho a pretenção de accordar gemidos ineditos em vossa dôr, desvendando aos vossos olhos quadros novos tanto a Patria se apoderou desta memoria querida, que nenhum dos louros do glorioso cidadão deixou de ser carinhosamente arrecadado.

Não farei mais que summariar ligeiramente as ephemerides preciosas de sua vida particular e publica.

O dr. Silviano Brandão era uma dessas physionomias que têm o condão de encantar á primeira vista; tal a expressão de bondade que reçumava do seu sorriso, raras vezes apagado pela indifferença e rarissimas substituido pelo senho severo da energia. Não è que esta ultima qualidade lhe faltasse; ao contrario, demonstrou em toda a sua vida que esta era a sua virtude dominante. Tem provado a experiencia que os temperamentos bruscos e soturnos são, com pouca excepção, os menos energicos.

Dotado de maneiras finas, na urbanidade de seu trato simples, mas correctissimo, podia confabular a contento e simultaneamente com o mais humilde filho do povo e com o mais exigente diplomata. Discreto na conversação, tinha a rara habilidade de introduzir nella o assumpto de sua escolha, entretendo os circumlocutores por lon gas horas sem enfado. Bondosamente accessivel a todos, a sua paciencia longanime não se gastava em ouvir complicadas, fastidiosas exposições de pretendentes, muitos dos quaes, desenganados de obtor o que desejavam, vinham do palacio amigos dedicados do Presidente, que para todos tinha uma palavra de conforto, de animação e de conselho.

Mas, não é preciso que eu reproduza, traço por traço, uma physionomia que tendes retratada no coração. O dr. Silviano Brandão

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